A Trama do Poema
Grávida de um poema
a vida pulsa no ventre sobressalente
a vida pulsa no ventre sobressalente
palavra que sobeja, arfa, soluça, chora,
imersa no mar infinito da gramática.
Tamanha sede de viver,
o poema nasce nu e cru,
neonato indefeso e frágil
desamparado em um mundo letrado.
O que poderá dizer ao mundo?
O indizível? O bizarro?
O sagrado? O pérfido?
O amorfo? O incompreensível?
Poderá expressar…
as regiões quietas e insondáveis do ser?
o cheiro de uma flor orvalhada?
o gosto de fruta tirada do pé?
O poema nasce do excesso da luz e da sombra,
da névoa branca semitransparente,
do recôndito, do milagre, da inexatidão,
do âmago acre dialético da vida,
das querimônias e quérqueras
do quimo amargo, amassado no ventre.
Melífluo dos encontros improváveis
surpresas da existência fluida da vida
das intransigências intransponíveis do cotidiano.
No poema as palavras deslizam
como seixos no fundo de um rio,
correm para o mar quieto, insondável e infinito.
n.n.a.
Foto: casa do livro na Colômbia/Bogotá
Deixe um comentário