Menina Caiçara
para minha filha
Plena de si, menina-mulher caiçara,
renasceu bem ali,
entre o mar e a terra,
no encontro das águas doces e salgadas.
Tão doce, coração meigo,
protetora das coisas da terra,
abrigo para pequenos seres,
uma árvore plantada, bem no meio do manguezal.
Mergulhou fundo nas águas limpas,
da Ilha das Peças, de Guaraqueçaba e do Superagui,
brincou com as crianças no trapiche e na praia,
feliz, voltou no tempo, tornou-se uma delas.
Andou descalça pela areia,
tomou banho de chuva,
viajou de canoa pelos povoados,
pescou, limpou, cozinhou e comeu.
Filha de terras caiçaras, terra dos avós e bisavós,
terra de manguezais: branco, vermelho e amarelo.
das Aroreiras, do Araticum-do-brejo, do Cebolão, da Bacopa, do Marmeleiro,
do Hibisco da praia, da Capororopa e da Samambaia do Mangue.
Terra dos golfinhos, onça-parda, cotias,
capivara, catetos, lagartos,
tucanos, papagaios e guarás,
tamanduás, jacus e do bugio.
Terra do Fandango Caiçara
batido, bailado ou valsado
da viola e tamancos,
com seus toques, versos e estruturas.
Terra que confia na proteção do Divino e no Bom Jesus do Perdão,
que ouve em silêncio os conselhos dos avós e avôs,
guardiões de sabedoria e dos remédios caseiros:
chás, guarrafadas, suadouros, unguentos e cataplasmas.
Terra de pescadores, agricultores,
que vivem em harmonia com a natureza,
hospitaleiros, simples, sustentáveis e amáveis,
terra da Vó Maria e Vô do Cezino,
terra onde mora nosso coração, nossas origens e nossa alma.
Noemi N. Ansay
Imagens: Fotos da Ilha das Peças e Guaraqueçaba
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